O Grupo Estação surgiu em 1985, quando foi inaugurado o então Cineclube Estação Botafogo, com a exibição do filme Eu sei que vou te amar, do cineasta Arnaldo Jabor.
Este primeiro cinema foi aberto no número 88 da rua Voluntários da Pátria, bairro de Botafogo, e ocupou as instalações do antigo Cine Coper, que pertencera ao Grupo Severiano Ribeiro. Tomaram parte na sua criação um seleto grupo de cineclubistas dos anos 80 que, de tão idealistas, se autodenominavam “Exército de Brancaleone”, em referência ao filme italiano do diretor Mario Monicelli. Fizeram parte desta trupe de sócio-fundadores, entre vários outros, Adriana Rattes, Adhemar Oliveira (hoje diretor do Espaço Itau de Cinema), Marcelo Mendes e a jornalista Ilda Santiago, hoje uma das diretoras do Festival do Rio e Nelson Krumholz
Quando da instalação do primeiro complexo, diversos nomes foram sugeridos: Cineclube Pau-Brasil; Cineclube Mico Leão Dourado, em referência àquele animal em extinção, sendo que tais nomes foram desencorajados pelo patrocinador. Acabou prevalecendo Estação, em referência à estação do metrô que havia sido inaugurada recentemente e ficava próximo ao cinema.
O cinema conquistou o público e a cidade, com filmes brasileiros, clássicos e inéditos que não eram exibidos no circuito comercial da época, sessões à meia noite, maratonas, sessões especiais para escolas, mostras e a criação da Mostra Banco Nacional (que mais tarde, 1999 tornou-se Festival do Rio).
Logo o Grupo ficou conhecido por transformar ‘cinemas poeira’ em templos dos cinéfilos e aos poucos ampliou seu circuito, com mais salas pelo Rio de Janeiro – Estação Paissandu, Estação Cinema 1, Estação Museu da República, Estação Icaraí, Estação Estácio de Sá, Estação Paço Imperial.
Em 1996, a abertura do Espaço de Cinema (hoje Estação NET Rio com 5 salas), próximo ao Estação Botafogo (com 3 salas), transformou a região da Rua Voluntários da Pátria no que o público carinhosamente batizou de Botafogolândia, revitalizando o local, que em 1985, era apenas um canteiro de obras do metrô.
Em 1999 foi a vez de orgulhosamente administrar e programar Odeon, na Cinelândia, o cinema mais emblemático do Rio de Janeiro. Nele o Grupo realizou mostras, bailes de carnaval, feiras, transmitir jogos da Copa do Mundo, retomar as Maratonas e outras atividades.
Em 2000, o Estação chegou a Ipanema, com duas simpáticas salas, localizadas no Bar 20. E vieram o Estação Laura Alvim, Estação Barra Point. Para além da cidade, o Grupo Estação chegou a São Paulo, com o Estação Top Cine e Estação Belas Artes.
Em 2005, foi a vez do Gávea ganhar seu Estação, com um complexo de 5 charmosas salas, no quarto andar do Shopping da Gávea.
Hoje (2024), compreende 3 complexos – Estação NET Botafogo, Estação NET Rio e Estação NET Gávea, e continua priorizando a exibição de filmes brasileiros, clássicos, inéditos com uma programação diversa, feita para todos os cinéfilos.
Como a licença de exibição das obras tinha um tempo limitado (por volta de cinco anos), também era exclusividade de lá uma sessão de “Última Chance”, em que títulos mais queridos poderiam ser reassistidos anos depois da estreia, e pouco antes do vencimento. Era também uma regra de mercado que, após essa expiração, as cópias fossem destruídas, pois os grandes estúdios desejavam espaço para os novos filmes. Entretanto, havia um mercado paralelo com depósitos repletos de cópias não destruídas em Santo Cristo e na Gamboa. Dessa forma, a equipe conseguia o material para realizar retrospectivas de diretores como Alfred Hitchcock e Luís Buñuel, cujas obras tinham expirado licença há muito tempo.
Godard, Pasolini e Bergman eram nomes famosos no imaginário cinéfilo mas cujos filmes passavam apenas ocasionalmente em projeções da Cinemateca do MAM ou do Cine Paissandu, lugares que perderam força ao longo da década de 1970. Havia uma lacuna de quinze a vinte anos entre a “geração Paissandu” de 1968 e os cinéfilos oitentistas, que, em grande parte, não tiveram acesso às produções desses cineastas. Dali em diante, tais obras encontrariam no Estação sede certa para semanas de exibição, para novos títulos ou para mostras e retrospectivas que fariam a sala de 300 lugares lotar o dia inteiro. Além do cinema europeu e norte americano independente, a os cinéfilos poderiam assistir ao brilho dos cinemas nacional, asiático e latino-americano.
O tom de novidade a esses nomes já consagrados se dava pelo público comum de cinema do país ter se acostumado a consumir apenas nomes mais conhecidos do “cinemão”, e se tornava mais resistente a produções estrangeiras independentes. Wim Wenders, Pedro Almodóvar, Jim Jarmusch, Werner Herzog, entre outros tantos nomes, eram ainda desconhecidos na cidade, e exibi-los era uma aposta. Que deu muito certo. Até futuros cults, então recentes, como Blade Runner (Ridley Scott, 1982) ou Fome de Viver (Tony Scott, 1982), eram exibidos uma ou duas semanas em cinemas mais comerciais e depois paravam nas prateleiras da distribuidora. Apenas com o sucesso da reapresentação desses filmes com os frequentadores do Estação, foi compreendida a sua preponderância naquele momento
O “Exército de Brancaleone” – assim se nomeavam os cinéfilos-empreendedores Adriana Rattes, Adhemar Oliveira, Ilda Santiago, Nelson Krumholz e Marcelo França Mendes, em homenagem ao filme de Monicelli – resolveu organizar um cineclube de programação e locação fixas, para o qual conseguiram patrocínio do Banco Nacional. Assim arrendaram o Capri, a sala de cinema ao fim da galeria 88 na Rua Voluntários da Pátria. Após inúmeros brainstorms e consultas a amigos para o batismo da sala, estavam entre os nomes mais votados “Cineclube Pau-Brasil” e “Cineclube Mico Leão Dourado”, misturando identidade nacional com defesa das nossas fauna e flora. Os nomes foram desestimulados pelos patrocinadores, e acabou ficando Estação de Cinema Botafogo, em referência à estação de metrô que efervescia diariamente.
O Estação, como ficou carinhosamente conhecido pelos flumineses cinéfilos, inaugurou com a estreia do internacionalmente premiado Eu Sei que Vou te Amar, de Arnaldo Jabor, no Rio de Janeiro. O evento reuniu desde os atores protagonistas Fernanda Torres (premiada com a Palma de Ouro em Cannes pela interpretação no filme) e Thales Pan Chacon aos funcionários do salão de beleza, da pizzaria e da lojinha de estofados da galeria – que hoje em dia são as outras duas salas de projeção e a cantina do atual Estação Claro Botafogo. A alegria democrática do primeiro evento foi um presságio do marco que o grupo viria a estabelecer na cultura cinéfila carioca e brasileira.
O metrô de Botafogo, a essa altura, havia sido inaugurado há quatro anos e se tornado o epicentro da locomoção na Zona Sul do Rio. Agora apenas uma curta viagem de integração ou de carro era necessária para pegar o metrô até o Centro da Cidade, e a alta circulação na região tornou o bairro um dos pontos mais fortes da região. Apesar da área degradada pelas obras de construção da metrovia, havia nele dois cinemas: o antigo Cine Capri e um chamado Botafogo, do grupo Severiano Ribeiro. A circulação do cinema alternativo na cidade dependia da agenda inconstante dos cineclubes, que faziam sessões em diferentes dias da semana e em diferentes cinemas cada vez. Mas, em 12 de novembro daquele ano, nasceria um espaço para o público carioca ávido por novidades assistir a um cinema à margem do círculo blockbuster hollywoodiano.
Quando o Brasil foi redemocratizado em 1985, os cinemas de rua cariocas fechavam vertiginosamente. O desmonte cultural e a censura que levaram à decadência importantes cineclubes para as gerações anteriores dispersou os cinéfilos fluminenses e dificultou seu acesso aos cinemas independentes. Mais de 73% dos domicílios brasileiros já tinham televisão em casa e os shoppings tomavam o lugar das galerias tradicionais, enquanto os multiplex tomavam o das pequenas salas de projeção.